Casamento fracassado

Mas como você se preparou para casar?

Há questionamentos que infelizmente só aparecem depois que a situação se complicou demais ou já culminou em separação. Um erro muito comum nos casais do século XXI é não se prepararem devidamente para o Casamento ou Matrimônio.

O namoro começa e a paixão dos inícios é quem manda no relacionamento, e por mais que se diga o contrário, a grande maioria dos casais nunca chega a amar de verdade o namorado ou a namorada, fica apenas na paixão e quando ela acaba também acaba o namoro. É comum ouvir a frase: “eu não amo mais!”, ou “o amor acabou!”. Em raros casos pode-se dizer que esta frase apesar de sincera, é também verdadeira. Para a maioria a verdade é: “eu nunca te amei”. E não foi necessariamente por falta de vontade ou egoísmo, talvez tenha simplesmente faltado tempo. E tempo de qualidade! Porque não basta apenas estar junto muito tempo, mas a qualidade deste tempo é determinante para que um relacionamento cresça e dure até que a morte os separe. Não é verdade que a amizade cresce mais quando este ‘tempo de qualidade’ é mais presente? Há amigos que vivem centenas de quilômetros um do outro, mas tem mais intimidade entre si do que com amigos que moram no bairro vizinho. Se, é assim com a amizade, muito mais entre os casais, que além de amigos são amantes, cumplices, parceiros, namorados, confidentes, suportes, cônjuges, uma só carne, um só coração… Um do outro. Ou pelo menos deveriam ser por vocação.

Como então aproveitar este tempo para que ele tenha qualidade e capacidade de solidificar um relacionamento a tal ponto que o casal possa dizer: estamos prontos para vivermos juntos o resto de nossas vidas?

Porque um casal já não conjuga mais a vida no singular. Quase tudo o que era ‘meu’, passou a ser ‘nosso’ e com o tempo o nosso será ainda maior quando vierem os filhos. O relacionamento com a família do namorado e da namorada é fundamental para a formação do novo casal. Esse tempo de qualidade é precisamente para o conhecimento do outro, que se revela muito mais e de maneira muito mais espontânea quando está entre as pessoas que ama e com as quais cresceu e se tornou gente: a família!

É naquela reunião em família de dia das mães, na passagem de ano, é naquele aniversário, no dia do acidente, nas ocasiões mais diversas, que a nossa presença é sentida e tem uma influencia direta na família e no relacionamento do casal. É assim que a intimidade ganha profundidade e amplitude. É assim que conhecemos melhor o caráter da pessoa com quem namoramos. Se ele é um trabalhador ou só enrola e dá jeitinhos; se ela é cuidadosa mesmo ou só vive à sombra da mãe ou da empregada que arruma tudo. É ali que a gente conhece as reações na hora da raiva e na hora da alegria. É com o tempo e a convivência de qualidade que sabemos como as pessoas lidam com as vitórias e com o fracasso. E assim, vamos conhecendo o perfil do nosso amado e da nossa amada, suas qualidades e defeitos, suas capacidades e medos. Podemos identificar onde precisamos de cura e de ajuda e se esta pessoa que escolhi é capaz de estar comigo nessas horas ou não. Isso faz a gente pensar em muitas coisas… E é preciso pensar mesmo, e sem medo de chegar à conclusão de que aquela pessoa que namoro não é o que esperava.

Ai está algo muito importante: O que você espera de um homem ou mulher tem que passar por vários critérios de avaliação que você tem, com certeza, para aplicar durante o seu tempo de namoro, porque depois que se casa a dor de uma separação precedida por muitas dores físicas, morais e afetivas, é muito pior do que a dor de quem corajosamente chega à conclusão de que o namoro foi bom, a pessoa é maravilhosa, mas depois de avaliar bem tantas situações, não vamos nos casar. Essa não é a pessoa que escolho.

Parece complicado, complexo, mas se esta atitude reina no relacionamento desde o início, as chances de acertar são muito maiores. É claro que ninguém manda no coração de ninguém, mas manda na vontade!  E é à vontade quem decide: “É de livre e espontânea vontade que o fazeis?” Essa é a pergunta do padre para cada um dos noivos no dia do casamento, e para respondê-la com convicção e segurança é preciso estar preparado por um relacionamento sadio, maduro, lúcido, sincero, verdadeiro, capaz de elevar o coração e a vida dos noivos de tal forma que é impossível viver longe um do outro.  Há uma força que os atrai um para o outro que está muito além do desejo físico, da conta bancária, da fama, do status ou de qualquer outra realidade prazerosa, mas volátil. É à força do amor, muito mais relacionada ao caráter, à história, à admiração, à amizade, ao coração, à alma… E ao que não se sabe explicar, mas que simplesmente e apesar de tudo, quero estar com você!

Isso não garante isenção de tribulações e tempestades no relacionamento depois de casados, de modo algum! Mas forma um casal preparado para enfrentar essas adversidades juntos, com maturidade e coragem, venham elas no início, no meio ou no final de suas vidas juntos, e elas virão certamente. Quem não está preparado sofre mais ou perece num divórcio que só é saída para quem já perdeu para quem já desistiu para quem já fracassou, infelizmente.

Quem já casou sabe ou deveria saber que seu cônjuge não se tornou um só coração com você no dia do seu casamento da mesma forma que se tornou uma só carne na lua de mel… São dons diferentes para realidades diferentes em benefício do casal. Tornar-se uma só carne é mais fácil e natural que tornar-se um só coração. A realidade de ser uma só carne caminha mais rapidamente do que a de ser um só coração, e com o passar dos anos, se essas realidades são devidamente cultivadas (o namoro que continua), tendem a alcançar um nivelamento na vida conjugal, dando ao casal uma maturidade que emana para a família e todos os que estão ao redor. Com o avançar da idade, a realidade de uma só carne tende a decrescer com o envelhecer do corpo enquanto que a realidade do coração avança ainda mais sublimando o que falta agora no campo sexual, e é isso que mantém os casamentos até que a morte chegue para um dos dois. Não avançar decididamente desde o início na realidade de se tornar um só coração com seu cônjuge é lançar-se num caminho arriscado, onde o amor para no físico, e começa a depender dos cosméticos, das dietas, das academias, das plásticas, das roupas, e de tudo o que ‘faz parecer’, para se manter de pé. Quando se cultiva o coração do outro, usa-se tudo isso, sem depender de nada disso.

Há tempo para salvar meu casamento?

Para Deus tudo é possível!

Você precisa se decidir por seu matrimônio em primeiro lugar. Decidir-se por salvar seu casamento. Precisa identificar os problemas e os erros, sobretudo os seus, e converter-se, e procurar ajuda qualificada, de amigos de verdade, de um sacerdote experiente, de familiares maduros e com relacionamentos estáveis, mas, sobretudo de Deus, na oração.

Você pode começar concretamente parando de reclamar e de acusar. Um segundo passo é reconhecer seus erros e pedir perdão. Perdoe também, mesmo que seu cônjuge não lhe peça perdão. Cultive a realidade de ‘Um só coração’. São gestos simples, palavras simples, reações simples que você tinha para com seu cônjuge antes de se casar ou no início do casamento que edificavam, faziam crescer, agradavam… Mas que depois caíram no esquecimento. Retome!

É uma mesa bem arrumada, é um ajuste nas cortinas da sala, é um passeio no parque, são as férias naquele lugar especial, é o tempo para ouvir o outro, é a paquera antes do ato conjugal, são as flores e o jantar romântico, ou aquele álbum de fotografias que nunca saiu… São todas as atitudes externas que “dizem” Eu te amo, são elas que precisam ser retomadas.

Tudo isso vai abrir caminho para o mais importante: o diálogo do coração! Onde você sabe que seu cônjuge não esconde mais nada de você e o acesso ao seu interior voltou a se abrir para você. Agora é só entrar e repousar em seus braços de onde você nunca deveria ter saído, e onde Deus escolheu para representa-lo como no casamento de Cristo com a Igreja.

Deus abençoe você!

Jarles

Comunidade Canção Nova.